quarta-feira, dezembro 20, 2006
Você sumiu dimadrugada!
Foi catar estrelas caídas na noite?
Não, ao que me respondeu:
Fui ajudar no parto do dia que não queria nascer...
domingo, dezembro 17, 2006
Três histórias de avós
Amigo espantalho - O ano começou de horta nova. Couve, cebola, alface, todos germinados. Alguém pensou em espantalho, palavra mágica... saímos nós pelo terreiro.
Do galho da castanheira fizemos o corpo, braço e pescoço. Do coco a sobrancelha pintada.
Vô da cozinha observava... Nos ali o dia inteiro, festeiro... nascia o espantalho.
Vô se aproximou com um chapéu furado e um palitó apertado. O espantalho feliz que só.
Ficou tão lindo que o sabiá em seu braço o canto ensaiava... depois de dias idos, descobrimos pela fresta do chapéu, um ninho de pombinha com dois ovinhos... Felicidade danada.
A vida é assim: quando tem sentimento, até o que assusta aproxima.
A mão sabedoria - O chapéu do vô a gente colocava. Falava grosso, alto, acreditando em todos mandar. Dia, vô da viagem chegou. De todos se lembrou. Na mesa da cozinha o chapeuzinho deixou. Colocamos na cabeça o presentinho, como a mão do nosso vô sobre em nós pousando e dizendo: seja criança, tudo, enquanto o tempo permitir.
Maramar - José Monteiro era português originário. Comerciante em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira, lá pras bandas do estado do Rio de Janeiro, vendia sonhos e ideais no balcão da sua Casa da América. Um belo dia, sua filha Maria Helena pediu-lhe ajuda para terminar um trabalho escolar, o desenho de mar. O pai, com todos os sonhos fervilhando em sua alma, fez, junto com a filha, um grande mar, revolto, cheio de movimentos e ondas, um mar dos grandes ideais, uma obra de arte acabada. A filha, vendo o resultado final, ficou encantada. Levou orgulhosa para a avaliação da professora seu mar mineiramente bordado. Para sua surpresa, o seu mar azul em ondas obteve a menor nota; oito, frente aos 10 dos outros mares sem poesia, sem ideais. A meninazinha ficou desolada e comunicou ao pai o resultado da avaliação em prantos. José Monteiro, olhando a filhinha sem o costumeiro ar de felicidade, ponderou:
- Liga não minha filha, professoras não sabem reconhecer um mar revolto!..
quinta-feira, dezembro 14, 2006
À palma da mão de Deus
Cecília Meirelles, entre tantos momentos de genial divindade, revelou-nos que “já não tem mais lugar quem mora em tudo”. Sei que moro em mim e dentro dos amigos. Habito abismos, estou onde sempre estive e onde nunca estarei. Estou na curva do destino, à beira do caminho. Como jardineiro da eternidade, sigo catando cacos espalhados, estilhaços encontrados aqui e ali, procurando amigos que um dia acreditei perdidos, esquecidos mundo afora... Agora, estou a revê-los, reencontrá-los em minha casa que tem várias moradas...
Meu Deus, como tudo é significativo, representativo... Neste momento, enquanto me decanto em sílabas, ouço o cd que a bela e perdida amiga me destinou do interior de Minas. Faz uma memória caduca dentro de mim, um instante insano, um momento pleno de luz e tantas coisas que não somos mais capazes de perceber, que não ousamos compreender... Sonhar é preciso, e acreditar é necessário. Afinal, o que o tempo nos deu além dos momentos? “Não os percamos agora”...
De fora, do mundo paralelo e real, o vento sopra à minha janela, querendo seqüestrar-me o instante. E eu só ‘canto por que o instante existe’. E ‘sou alegre, sou triste, sou poeta’. Poeta da palavra viva, da voz que dobra e faz da esquina a curva da lua, da rua que acende em nós a noite e nos faz sonhar o impossível, o imprescindível, o imponderável.
Hoje, quero só viver o impossível, colher manhãs madrugadas adentro, fazer minha casa dentro da sombra do tempo, me entregar ao momento...
É difícil viver assim? Não, é fácil, muito fácil, basta apenas se alimentar de infinito, fisgar o arco-íris no anzol das horas. Fazer com que o tempo não tenha demora, tenha apenas um minuto para viver e se entregar, se encontrar nos vários que em nós habita e o coração agita.
Se você não acredita, nada posso fazer... Te dou apenas este depoimento ancorado em palavras, minha verdade colhida sobre os muros cobertos pelas eras nas camadas da atmosfera. Se você jogar a mascara fora, deixar a dúvida, o medo e o engano irem-se embora, libertar o pensamento aprisionado na palma da sua mão, talvez entenderá este mundo aqui traduzido, este universo submerso em tantos sois e seus infinitos girassóis...
Eu, no entanto, vou um mundo novo desvendar, uma nova esquina encontrar, em um novo barco singrar a aurora em direção aos caminhos secretos dos grandes mistérios de Deus, me exilar pela terra etérea, ser cada vez mais os pedaços que tanto em tudo estou.
Onde, não sei... Sei apenas que vou, que tenho a nítida, clara e confortante certeza que eu também sou parte dele, do todo. Com a bênção de Deus!
domingo, dezembro 03, 2006
Mãos dadas
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