domingo, dezembro 17, 2006

Três histórias de avós

Amigo espantalho - O ano começou de horta nova. Couve, cebola, alface, todos germinados. Alguém pensou em espantalho, palavra mágica... saímos nós pelo terreiro. Do galho da castanheira fizemos o corpo, braço e pescoço. Do coco a sobrancelha pintada. Vô da cozinha observava... Nos ali o dia inteiro, festeiro... nascia o espantalho. Vô se aproximou com um chapéu furado e um palitó apertado. O espantalho feliz que só. Ficou tão lindo que o sabiá em seu braço o canto ensaiava... depois de dias idos, descobrimos pela fresta do chapéu, um ninho de pombinha com dois ovinhos... Felicidade danada. A vida é assim: quando tem sentimento, até o que assusta aproxima.
A mão sabedoria - O chapéu do vô a gente colocava. Falava grosso, alto, acreditando em todos mandar. Dia, vô da viagem chegou. De todos se lembrou. Na mesa da cozinha o chapeuzinho deixou. Colocamos na cabeça o presentinho, como a mão do nosso vô sobre em nós pousando e dizendo: seja criança, tudo, enquanto o tempo permitir.
Maramar - José Monteiro era português originário. Comerciante em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira, lá pras bandas do estado do Rio de Janeiro, vendia sonhos e ideais no balcão da sua Casa da América. Um belo dia, sua filha Maria Helena pediu-lhe ajuda para terminar um trabalho escolar, o desenho de mar. O pai, com todos os sonhos fervilhando em sua alma, fez, junto com a filha, um grande mar, revolto, cheio de movimentos e ondas, um mar dos grandes ideais, uma obra de arte acabada. A filha, vendo o resultado final, ficou encantada. Levou orgulhosa para a avaliação da professora seu mar mineiramente bordado. Para sua surpresa, o seu mar azul em ondas obteve a menor nota; oito, frente aos 10 dos outros mares sem poesia, sem ideais. A meninazinha ficou desolada e comunicou ao pai o resultado da avaliação em prantos. José Monteiro, olhando a filhinha sem o costumeiro ar de felicidade, ponderou: - Liga não minha filha, professoras não sabem reconhecer um mar revolto!..

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