sábado, janeiro 06, 2007

História do ano novo

O ano terminou velho, feio e cansado. Na antiga capital federal, os homens matavam, torturavam, perseguiam, numa triste e covarde inquisição civil, a barbárie nas ruas do Brasil. Eu, acompanhando a tudo de perto, pedia um ano novo, um dia novo, nascido no azul do céu debruçado sobre o grande mar dos sonhos humanos. Pedia por um dia de luz depois da mais negra, fria e triste noite. Nas ruas, as pessoas dividiam um sentimento guardado, querendo o inesperado, o belo, o louvado, o amor, a paz, as coisas de Deus. Busquei um dia novo, um pouco separado. As praias estavam lindas, onde se ouvia as várias línguas dos povos da terra. Falamos tantas línguas e nos dizemos tão poucas palavras... Aquele dia amanhecera lindo, era o segundo que ali passava. Me pegou em cheio. Foi mágico, longo e profundo. De manhã, interrompo a caminhada para sentar ao lado da estatua do poeta-maior, bem no calçadão de Copacabana. Depois, um banho de mar para as coisas ruins do dia, o mar levar. Sigo agora leve, em busca de um ano novo e renovado. Nas pedras do Arpoador os casais encontram o amor ensolarado sobre os corpos dourados. Em Ipanema, ao cair da tarde, o show de rock na areia, bem em frente ao palco montando, onde aguardaremos o reveillon importado. A praia é democrática e abriga várias ‘tribos’ separadas. Vejo a que toca e canta samba ao violão, a dos turistas, dos alternativos, dos vendedores e a minha; cada um ao seu modo querendo um momento de paz, um dia de luz e um ano de felicidades. Enquanto assistia ao show de rock, bem ao meu lado, um jovem toda vez que abria uma nova lata de cerveja, jogava um gole na areia e agradecia: A Ipanema, meu amor e minha vida! Depois bebia um gole profundo e demorado. Os sentimentos dos homens são sempre os mesmos com aquilo que eles amam e acham divino. À noite, mais uma longa e prazerosa caminhada pela orla da praia. Para alimentar minha mineiridade, peço ao ambulante um milho verde cozido pela minha memória, as coisas que ainda queimam em meu coração. Dá uma saudade danada... Agora, o corpo pede repouso; a alma, apenas paz. Amanhã será o último dia do ano. Infelizmente, ele acendeu nublado, chuvoso, pesado. No último dia o céu chorava um ano de tristezas com todas as suas dores. Seguiremos em denso nevoeiro, atravessaremos as tempestades, enfrentaremos os temporais. Tomo um último, frio e derradeiro banho de mar, depois de uma longa caminhada. O Rio ainda continua lindo... Paro para apreciar. No quiosque que toca a balada reggae de tantas alegrias em 2006, peço uma cerveja para brindar o ano que finda e fico a ver o mar que se estende à minha volta. As pessoas estão alegres e o mundo poderia ser um contínuo ano novo, um contínuo recomeçar. À noite, os fogos e os folguedos. Madruga alta, depois de todos os shows em Ipanema, encontro um inesperado lual particular onde começo o ano dançando James Brown em plena praia do Arpoador. Que maravilha, o ano começou diferente! Já é manhã quando parto. A bela amiga sugere: vamos ver o sol nascer! Com um sorriso respondo, dou-lhe um beijo e vou. O sol já havia nascido em mim. O dia foi perfeito. No Rio de vários janeiros, busco o meu, coroado em paz, com os amigos sempre à minha volta e que a felicidade não seja neste novo ano como as ondas do mar, mas sim como a areia da praia, aquela que a cada instante uma nova onda vem e toca. E nós, deixamos nossas pegadas... Com a graça de Deus!

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